O azul é relativamente raro na natureza, mas ele é claramente observado no céu durante o dia e na água, como em lagos e rios. Algumas pessoas e animais também possuem olhos azuis, sem contar nas diferentes espécies de pássaros que possuem penas azuladas.
Contudo, é difícil encontrar plantas e flores com a cor azulada, apenas algumas estirpes apresentam detalhes com essa característica. Inclusive, um mito sobre os povos antigos sugere que eles não conseguiam enxergar o azul.
Apesar de existirem diversas evidências da cor azul no passado, muitos livros descrevem outras cores ao invés do azul. Por exemplo, a Odisseia, de Homero, descreve um oceano com a cor ‘escura como o vinho’, mas em nenhum momento cita o azul — a epopeia grega foi lançada por volta dos anos 800 antes de Cristo. O detalhe foi descoberto pelo estudioso e político britânico William Gladstone.
A discussão do azul na história da humanidade é muito maior do que aquele vestido que era branco e dourado e, ao mesmo tempo, preto e azul.Fonte: Getty Images
A partir desta informação, o filósofo e filólogo judeu-alemão, Lazarus Geiger, ficou curioso e começou a estudar diversos outros textos antigos de diferentes regiões do mundo. Ele analisou livros chineses, japoneses, islandeses, hindus, entre outros, e não encontrou nenhum tipo de menção ao azul.
“Esses hinos, com mais de dez mil linhas, transbordam com descrições dos céus. Dificilmente algum tema é evocado com mais frequência. O jogo de cores do sol e da alvorada avermelhada, o dia e a noite, nuvens e relâmpagos, o ar e o éter, todos esses são desdobrados diante de nós, repetidas vezes… mas há algo que ninguém aprenderia dessas antigas canções… e isso é que o céu é azul”, disse Geiger.
Para explicar um pouco melhor se os povos antigos enxergavam o azul, o TecMundo reuniu informações de estudiosos e especialistas da área. Confira!
Povos antigos e a cor azul
Gladstone afirma que Homero utilizou as palavras ‘cobre’ e ‘ferro’ para descrever a cor do céu. Nas antigas versões hebraicas da bíblia, também não há menção do azul. Tudo isso foi questionado por diversos pesquisadores. Afinal, por que o azul não é tão citado nas obras literárias antigas da humanidade? Será que os humanos não enxergavam o azul?
A realidade é muito mais simples do que as teorias conspiratórias. Sim, os humanos antigos enxergavam o azul, mas a percepção da época era muito diferente da atual. A ciência explica que os olhos dos seres humanos conseguem enxergar mais de um milhão de tons de cores; a única coisa que não é mensurável é como cada pessoa experimenta a observação dessas diferentes cores.
Segundo os registros históricos, a primeira sociedade que descreveu a cor e criou uma palavra para ‘azul’ foram os egípcios, pois eles conseguiam reproduzir corantes azuis. Os especialistas da área acreditam que, a partir daí, a consciência sobre a cor começou a se espalhar para o Ocidente e a se tornar tão importante quanto é hoje.
Uma questão linguística
Em 2006, o psicólogo da Universidade Goldsmiths de Londres, Jules Davidoff, publicou um estudo para entender um pouco melhor sobre a questão. Na época, eles estudaram sobre como a tribo Himba, da Namíbia, enxergava as cores e questionaram o motivo de não existir uma palavra para o azul. Inclusive, eles perceberam que a tribo não conseguia distinguir entre as cores azul e verde.
No fim, se trata mais de uma questão linguística do que da percepção dos seres humanos. Sempre enxergamos o azul, mas antigamente faltavam palavras para descrever a cor.Fonte: Getty Images
No artigo, os pesquisadores descrevem que realizaram um teste em que apresentaram um círculo com 11 quadrados verdes e um quadrado azul aos residentes da tribo. Os membros do território Himba não conseguiram diferenciar entre as cores, e aqueles que tentaram descobrir qual era o quadrado azul acabaram falhando.
Em um segundo teste, os cientistas apresentaram o mesmo círculo com 11 quadrados em tons verdes e um quadrado com um tom diferente. Assim, eles conseguiram perceber a diferença. Contudo, os estudiosos explicam que isso aconteceu porque o idioma da tribo possui muito mais palavras para o verde do que a nossa atual sociedade.
Você consegue identificar o quadrado azul no qual a tribo Himba teve dificuldade?Fonte: Vidipedia / Himba color experiment
Ou seja, não é que eles não conseguem enxergar o verde, é mais sobre a percepção das cores que eles observaram durante suas vivências. Em outro estudo realizado em 2007, pesquisadores do MIT perceberam que os russos têm palavras descrever o azul, azul-claro e azul-escuro. Assim, eles perceberam que os falantes do idioma russo conseguem diferenciar muito melhor os azuis-claro e escuro do que as pessoas que falam inglês.
Davidoff concluiu que a definição linguística de uma palavra para explicar a cor é muito importante para percebermos que ela tem um tom único. Ou seja, de fato os povos antigos conseguiam enxergar o azul, mas a falta de uma palavra dificultava a percepção deles sobre a cor. Em conclusão, as cores sempre existiram, mas a capacidade da humanidade de percebê-la surgiu ao decorrer da história.
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