Visions of Mana é o primeiro lançamento completamente inédito da franquia, que começou como um derivado de Final Fantasy, em quase dezoito anos. Produzido pela Ouka Studios, uma recém-fundada subsidiária da NetEase Games, o título chamou a atenção pelo curto intervalo entre seu anúncio e lançamento, e também por se propor a reintroduzir a franquia de RPG de ação nos dias atuais
Colocando as mãos na versão completa, ficou claro que Visions of Mana é um jogo de médio orçamento e praticamente um milagre concretizado, tendo em vista a nova estratégia de negócios da Square Enix que acarretou o cancelamento de muitos projetos menores da empresa.
Eu acho muito importante que existam jogos de menor escopo e sem grandes ambições, que tenham alguma ideia divertida ou que façam o básico bem-feito. Mas, infelizmente, Visions of Mana dá um passo maior do que a perna e se perde no caminho, entregando um mundo raso e um roteiro nada envolvente. O Voxel traz os detalhes no review a seguir. Confira:
Uma aventura esquecível
A história é sem dúvidas um ponto de venda importante quando pensamos no gênero de RPG. Ainda que tenha uma premissa que instigue a curiosidade, a execução de Visions of Mana é bastante precária e rapidamente faz o jogador perder o interesse.
O principal culpado é o seu roteiro apressado, que não dá o tempo necessário para aprofundar seus personagens e sempre recorre a soluções fáceis. O protagonista, Val, é um típico herói genérico que age por impulso e que é dotado de um poder misterioso muito mal explicado.
Na sua peregrinação até a Árvore de Mana, Val precisa reunir os chamados Alms, que são indivíduos comuns, escolhidos pela Deusa e pelos elementais, para sacrificar seus espíritos a fim de evitar cataclismas em suas terras natais. É uma prática naturalizada pela humanidade e vista como algo honroso, mas que levanta questionamentos no grupo principal.
Por isso, o jogador desembarca em diferentes continentes com suas respectivas cidades e campos semiabertos – repletos de monstros e baús de tesouro. O problema disso é que o jogo aposta em quantidade em vez de qualidade: há muitos lugares para visitar, mas todos desinteressantes e repetitivos.
Não espere muito da história de Visions of Mana: o roteiro é previsível e apressadoFonte: Divulgação/Steam
Más decisões de design
No meio disso, há decisões de design bastante questionáveis. Logo na primeira área, o jogador pode se deparar com grupos de inimigos de nível cinquenta, sem qualquer chance de serem derrotados naquele momento.
Além disso, o jogo sempre subestima a inteligência do jogador com mensagens de tutorial desnecessárias, que interrompem o ritmo de gameplay. As mecânicas de exploração, baseadas em artefatos elementais coletados durante a jogatina, também carecem de criatividade.
Por exemplo, há pontos fixos através dos quais podemos invocar o elemental do vento e conjurar um tornado que carrega o personagem e facilita certas travessias. No entanto, o caminho do ponto A ao B é pré-definido e o jogador só assiste, sem chances de descobrir novos lugares ou até mesmo de movimentar a câmera.
Os baús espalhados pelos cenários também ficam rapidamente maçantes, pois não é possível diferenciar os comuns daqueles que têm recompensas mais valiosas. Além disso, o jogo já traz todos os “segredos” marcados no mapa, tirando todo o sentimento de descoberta e o propósito de imergir no seu mundo.
As missões secundárias também prestam um grande desserviço nesse sentido, pois recorrem à fórmula mais batida possível e que não agrega relevância: conversar com um NPC, matar um grupo de inimigos ou interagir com outros personagens, e reportar ao solicitante.
As mecânicas de exploração de Visions of Mana são repetitivas e mais parecem um pedágioFonte: Divulgação/Square Enix
Combate desengonçado, mas que encontra fôlego
Ainda que demore bastante para ficar chamativo, o sistema de combate é o ponto mais positivo de Visions of Mana. Tudo gira em torno dos artefatos elementais coletados durante a aventura, que são oito no total e destravam uma classe quando vinculados a um personagem.
Um mesmo artefato pode ser intercalado entre os integrantes do grupo para destravar suas respectivas classes. Há, ainda, uma pequena árvore de talentos compartilhada — ou seja, quanto mais classes forem liberadas, mais poderosos e versáteis os seus personagens serão como um todo.
Essa é uma premissa interessante porque convida à experimentação. As classes também mudam a aparência do personagem e a arma equipada, com chances de destravar novos combos básicos e técnicas cada vez mais úteis.
O interessante é que os próprios artefatos servem como uma arma auxiliar em combate, e são bastante poderosos. Com a progressão, eles permitem um ataque ainda mais chamativo que aplica efeitos ao campo de batalha, aumentando a mobilidade dos personagens e maximizando efeitos como dano, cura, entre outros.
No entanto, não foram raros os momentos em que as mecânicas causaram dor de cabeça. Era muito comum dar uma ação para um personagem usar um item, mas ele não executar porque estava andando ou pulando.
A trava de mira, tão essencial em um RPG de ação, também causava muitos problemas, incluindo bugs que congelavam completamente o movimento da câmera fora de combate. Também houve muitos momentos em que optei por desligar a trava de mira, pois ela só atrapalhava a visualização.
Os artefatos elementais são a característica mais interessante de Visions of Mana, especialmente nos combatesFonte: Divulgação/Square Enix
Apresentação e desempenho
Os gráficos de Visions of Mana chamam a atenção, em particular, pela sua direção artística. Os personagens principais e os inimigos, que são bastante reconhecíveis da franquia, têm visuais fofinhos e caricatos. Não é nada particularmente incrível, mas ajuda a dar uma identidade ao jogo.
O problema é que o jogo peca muito em otimização. Eu enfrentei problemas com a taxa de quadros do início ao fim, mesmo com modo de performance no PS5, e também era comum flagrar modelos inteiros de personagens piscando na tela.
Esses casos eram mais comuns durante os combates, com muitos inimigos na tela, e também nas animações de especiais. Eu tenho bastante tolerância com oscilação de FPS, mas as quedas em Visions of Mana são bastante perceptíveis e podem incomodar.
Visions of Mana agrada no combate, apesar da interface truncada e trava de mira pouco funcionalFonte: Divulgação/Square Enix
Vale a pena?
Apesar de ser um RPG de ação curto, com cerca de 25 horas de gameplay, Visions of Mana entrega uma experiência inchada e repetitiva. Todas as suas mecânicas de exploração atuam como um tedioso pedágio, pois estão atreladas a um mundo que não aproveita sequer uma fração do seu potencial.
Caso você esteja esperando uma história interessante, há grandes chances de se decepcionar. O roteiro, que é mal escrito, toma decisões previsíveis e não aprofunda os seus personagens o suficiente para que o jogador compartilhe das suas motivações. A ausência de uma localização em português do Brasil também é inaceitável.
É no sistema de combate que o jogo encontra algum fôlego, mas só se os jogadores tiverem paciência para destravar todas as classes e experimentar combinações. As suas mecânicas são simples e o jogo não é particularmente desafiador. A maior dificuldade está na interface de usuário truncada e movimentação desengonçada.
Em resumo, é um jogo que só vale pegar na promoção ou se você for muito fã da franquia, já que há muitos elementos recorrentes que também marcam presença aqui.
Nota do Voxel: 65
Prós (pontos positivos):
- Visuais fofos e caricatos;
- Design dos personagens principais e inimigos;
- Trilha sonora aconchegante;
- Combate com muita margem para personalização.
Contras (pontos negativos):
- Roteiro ruim e previsível;
- Personagens muito rasos;
- Mundo com potencial desperdiçado;
- Trava de mira problemática;
- Muitos problemas de desempenho no PS5;
- Ausência de localização em PT-BR.
A análise de Visions of Mana foi realizada no PS5 com uma chave fornecida pela assessoria de imprensa da publicadora. O jogo chega em 29 de agosto com versões para PC, PS5, PS4 e Xbox Series S e X.