Um arquivo de dados sobre dentes de criaturas marinhas parecidas com enguias permitiu o esclarecimento de um dos maiores mistérios da paleoclimatologia moderna: por que os efeitos de um aquecimento global ocorrido no Permiano-Triássico provocaram uma extinção em massa de praticamente todas as formas de vida em nosso planeta?
Embora cientistas associem essa catástrofe biológica a uma série de erupções vulcânicas no que é hoje a Sibéria, somente a injeção de muito mais dióxido de carbono (CO2) na atmosfera (cerca de 2,5 mil partes por milhão/ppm) não explica o que fez com que a vida planetária, aí incluídos plantas e insetos historicamente resistentes, se abatessem tanto.
Segundo o estudo recente, publicado na revista Science, o colapso ecológico do Permiano-Triássico, ocorrido há 252 milhões de anos, pode ter sido a combinação de um aquecimento global com eventos de El Niño mais intensos que o normal. Isso resultou em desmatamento, morte de recifes e uma crise de plâncton. Esses fenômenos impulsionaram um ciclo de feedback que trouxe mais calor e novos El Niños ainda mais fortes.
As mudanças climáticas que causaram uma extinção em massa
O método científico usado para determinar as mudanças de temperatura durante o evento de extinção do Permiano-Triássico foi analisar a proporção de isótopos de oxigênio na “coleção de dentes” de conodontes do Dr. Yadong Sun, da Universidade de Geociências da China e primeiro autor do artigo. Essa pesquisa indica a temperatura da água em que o organismo viveu.
Os dados mostraram que, em Panthalassa, o antigo oceano que cobria 70% da superfície da Terra, a parte ocidental era mais quente do que a oriental. Mas essa diferença de temperatura (gradiente) diminuiu à medida que o clima esquentava no fim do Permiano. Com isso, ocorreram temperaturas mais quentes no leste, como acontece nos eventos atuais do El Niño.
Em entrevista ao Live Science, o coautor do estudo Alex Farnsworth, modelador climático na Universidade de Bristol, explicou que, com o calor, “As mudanças responsáveis pelos padrões climáticos identificados foram profundas porque houve eventos El Niño muito mais intensos e prolongados do que os testemunhados hoje”, e as espécies não deram conta de se adaptar.
Traçando um paralelo com as mudanças climáticas atuais
Embora a emissão de CO2 na atmosfera seja atualmente um sexto (419 ppm) do que havia no Permiano, essa injeção ocorre a uma taxa bem mais rápida. Esse aumento pode ter exacerbado os eventos do El Niño ocorridos no ciclo 2023-2024, quando os extremos climáticos causaram uma elevação em cerca de 15 °C nas temperaturas do hemisfério norte.
Em um comunicado, o coautor Paul Wignall, da Universidade de Leeds, explicou: “Felizmente, tais eventos até agora duraram apenas um ou dois anos de cada vez. Durante a crise do Permiano-Triássico, o El Niño persistiu por muito mais tempo, resultando em uma década de seca generalizada, seguida por anos de inundações”.
Outro coautor, Paul Wignall, da Universidade de Hull, detalhou o fenômeno do carvão abundante encontrado em rochas daquela idade: “Incêndios florestais se tornam muito comuns se você tem um clima propenso à seca. O planeta Terra ficou preso em um estado de crise onde a terra estava queimando e os oceanos estagnados. Não havia onde se esconder”, ou seja, um fenômeno que está se tornando comum hoje no mundo.
Conclusões do estudo sobre a extinção do Permiano
A extinção do Permiano-Triássico foi tão diferente, segundo os autores, porque esses mega El Niños criaram um aquecimento global sem precedentes que resultou em um declínio da vegetação no mundo inteiro. Com a morte das plantas, se foi um dos mecanismos terrestres de regulação do CO2 na atmosfera, assim como a base da cadeia alimentar.
Isso explica também porque uma das maiores extinções da história do planeta ocorreu dezenas de milhares de anos em terra antes da extinção nos oceanos.
Embora as águas estivessem a princípio protegidas do calor, “o mega-El Niño fez com que as temperaturas em terra excedessem as tolerâncias térmicas da maioria das espécies em taxas tão rápidas que elas não conseguiram se adaptar a tempo”, concluiu o Dr. Sun.
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