Lançado no dia 30 de agosto pela Netflix, o filme de terror A Libertação (The Deliverance) tem feito sucesso no streaming com sua trama sobrenatural. Dirigida por Lee Daniel, a obra já figura na segunda posição entre os longas-metragens mais assistidos entre o público brasileiro, apesar de não aparecer no Top 10 global.
O filme conta a história de Ebony Jackson (Andra Day), que se muda para uma nova casa, mas logo descobre que o lugar vai virar o cenário de uma luta por sua própria vida. Tratando de temas como dinâmicas familiares problemáticas e possessão demoníaca, a produção consegue se diferenciar por um fator crucial: ela é inspirada em situações que realmente aconteceram.
A Libertação é baseada em fatos reais?
A Libertação é inspirada na história da família Ammons, que afirmava ter vivido em uma casa habitada por espíritos malignos na cidade de Gary, Indiana, nos Estados Unidos. Tudo começou em 2011, quando Latoya Ammons alugou uma residência na Carolina Street, na qual foi morar com seus filhos de 7, 9 e 12 anos de idade.
O caso se tornou famoso em 2014, quando uma reportagem publicada pelo Indiana Star trouxe detalhes do que teria acontecido no local. Segundo Ammons, o primeiro evento estranho aconteceu em dezembro de 2011, quando diversas moscas pretas começaram a habitar a varanda do local — e continuavam retornando mesmo após terem sido exterminadas.
Ela afirma que, nos próximos meses, seus filhos começaram a levitar, ser jogados por uma força misteriosa em direção às paredes e começaram a falar com vozes profundas e sobrenaturais. Os relatos da moradora foram reforçados por médicos, trabalhadores de assistência social e policiais, que também teriam testemunhado episódios semelhantes.
No entanto, a história que inspirou A Libertação também tem uma explicação mais racional, mas ao mesmo tempo mais triste e preocupante. Em 2012, uma denúncia contra Ammons afirmou que ela tinha problemas psicológicos e agia de forma abusiva com seus filhos, a quem teria estimulado a agir da maneira bizarra — algo que resultou na perda da guarda deles.
Uma avaliação psicológica das crianças revelou que as histórias contadas por elas eram “bizarras, fragmentadas e ilógicas” e mudavam a cada vez que eram contadas. Em 2012, um pastor da paróquia St. Stephen Martyr, em Merriville (Indiana) abençoou três vezes uma outra residência que havia sido alugada por Ammons.
Ela se mudou para lá e, após cumprir as condições impostas pelo departamento de assistência social, conseguiu reaver a guarda de seus filhos — que, desde então, viveram sem testemunhar novos eventos. O apartamento na Carolina Street nunca mais testemunhou episódios bizarros antes de ser demolido em 2016, durante a produção do documentário Demon House.
Nem tudo é verdade no filme da Netflix
Embora seja baseado em uma história real, A Libertação não deve ser encarada como uma transposição fiel dela. Ao Hollywood Reporter, o diretor do filme afirmou que tomou várias liberdades em sua obra e que tinha como objetivo criar um “thriller baseado na fé”, deixando a cabo do público decidir como interpretá-lo.
Segundo Daniels, sua intenção era mostrar uma história sob o ponto de vista de uma mulher negra e fazer o público “ficar assustado e buscar Jesus”. Ele também afirma que, embora tenha conversado com Ammons durante a produção do filme, decidiu criar uma interpretação própria dos acontecimentos.
O diretor também mudou a etnia de alguns personagens e a natureza religiosa de muitos dos rituais que são feitos durante o longa-metragem. Segundo ele, sua intenção era mostrar algo que fosse além da expulsão de uma entidade demoníaca, revelando como a vida de seus personagens podia ser transformada pela busca de Deus ou de Jesus Cristo.