Um vídeo que circulou nos últimos dias em redes sociais gerou curiosidade e espanto por mostrar uma suposta tecnologia em fase de testes. Tudo começa com uma pessoa configurando um aplicativo no celular e escolhendo um ponto no mapa.
De repente, o local a céu aberto que está totalmente no escuro é iluminado por um feixe de luz que vem do céu. E, ao direcionar a câmera para o alto, vemos que a fonte parece mesmo ser o espaço. Será que em breve será possível encomendar energia solar até de noite?
New things to play with on the website! pic.twitter.com/NJcOjFSblf
— Ben Nowack (@bennbuilds) August 22, 2024
O clipe circulou por plataformas como Instagram, Facebook, TikTok e X (o antigo Twitter), com muita gente duvidando que o conteúdo fosse verdade. Elas estavam parcialmente certas: embora o vídeo seja mesmo encenado, ele é a demonstração conceitual de uma startup que promete revolucionar a energia solar.
O que é a Reflect Orbital
O vídeo foi postado por Ben Nowack, fundador e CEO de uma startup chamada Reflect Orbital. Basicamente, a companhia quer aproveitar a luz solar — que é altamente eficiente, funciona sem parar e tem uma fonte que demorará até se esgotar — mesmo se o local estiver no escuro.
O serviço funcionaria com base em satélites que agem como refletores. Os espelhos de 10 metros quadrados serão de uma película de poliéster conhecida como Mylar, a mesma de cobertores espaciais para isolamento térmico.
Uma ilustração que mostra como serão os satélites em funcionamento.Fonte: Reflect Orbital
A ideia da companhia é colocar 57 satélites no espaço, todos com uma formação sincronizada na órbita polar — que é sincronizada com a posição do Sol e, como o nome sugere, circula o planeta com base nos polos. Esses espelhos seriam construídos para “concentrar” a luz em um feixe que pode ser direcionado a um ponto do planeta.
Satélites nessa órbita têm uma rotação de aproximadamente uma hora e meia e contam com iluminação solar constante, graças ao conjunto de inclinação e altitude da sua configuração. Dessa forma, eles estão voltados para a Terra sempre onde há o mesmo tipo de iluminação e sobrevoa cada ponto da Terra duas vezes ao dia.
A constelação de satélites na órbita sincronizada com o Sol.Fonte: Reflect Orbital
Uma constelação em órbita polar, segundo a startup, pode garantir até 30 minutos a mais de energia solar para painéis solares fotovoltaicos, por exemplo. Nowack diz que já conversou com algumas usinas de paineis solares para tentar “alugar” o serviço para que elas tenham mais luz disponível ao longo do dia no futuro.
Luz solar durante a noite é mesmo possível?
Criada na Califórnia e já na mídia há alguns anos pela ideia ousada, a empresa garante que já é possível reservar uma vaga na plataforma e promete entregar o serviço a partir do último trimestre de 2025.
A Reflect Orbital por enquanto fez apenas um teste em 2023 usando um espelho posicionado em um balão de ar quente. Ela considerou o experimento bem sucedido — gerando 500 watts de energia por metro quadrado, segundo a marca — e quer fazer o primeiro experimento no espaço no ano que vem.
O sonho da companhia é o mesmo do vídeo viralizado: oferecer um feixe de luz para usinas de energia solar ou empresas por meio de um aplicativo, que usaria apenas um GPS para fazer o direcionamento do feixe.
Como prova de que isso é possível, a startup cita um experimento russo realizado em 1992. O satélite Znamya 2 ficou só algumas horas em órbita, mas conseguiu com sucesso direcionar um raio de luz para o planeta.
Iluminar regiões inteiras que deveriam estar no escuro pode ter efeitos negativos.Fonte: Reflect Orbital
Porém, ainda são muitos os questionamentos sobre a viabilidade dessa tecnologia. Os refletores de feixes de luz poderiam contribuir para a poluição luminosa, que dificulta a observação espacial, e a poluição espacial, com a órbita terrestre já “congestionada” de satélites. Além disso, até o uso do serviço pode trazer problemas como gerar perturbações no ciclo de dia e noite em uma região, algo essencial para a manutenção de um ecossistema.
Até o momento, porém, a empresa ainda está longe de tornar realidade o vídeo que bombou nas redes.