Em uma pesquisa recente destinada a estabelecer em qual categoria o cataclísmico impactador associado à extinção dos dinossauros se enquadra, uma equipe internacional de cientistas, liderada pelo dr. Mario Fischer-Gödde, da Universidade de Colônia na Alemanha, identificou amostras de rutênio depositadas por objetos gigantes em crateras da superfície da Terra.
Publicado na revista Science, o estudo confirmou o que se suspeitava: o impactador de Chicxulub, responsável pela extinção em massa ocorrida em nosso planeta há 66 milhões de anos, era um tipo raro de asteroide carbonáceo que se formou no Sistema Solar externo, muito além de Júpiter. Medições adicionais de outros cinco impactos, mostraram que as crateras foram provocadas por asteroides de silicato, vindos da nossa vizinhança solar.
A descoberta põe fim a uma controvérsia sobre a natureza do impactador de Chicxulub, ao mesmo tempo que dá pistas de sua origem: o chamado Sistema Solar externo, e não o cinturão principal de asteroides, entre as órbitas de Marte e Júpiter. O conhecimento pode ser útil na tentativa de prever e tentar evitar um futuro evento dessa espécie.
Analisando o rutênio trazido por asteroides
Cientistas mediram isótopos de amostras de rutênio possivelmente trazidas por asteroides.Fonte: Gett yImages
Para testar suas hipóteses, os pesquisadores analisaram as proporções de isótopos de amostras de rutênio depositadas no solo pelo impacto de objetos celestes. Embora abundante em rochas espaciais, esse metal é muito raro na crosta terrestre, pois deve ter “afundado” em direção ao núcleo do planeta, devido à sua densidade.
Foi justamente a concentração do elemento na fronteira entre as rochas depositadas entre o Cretáceo e o Paleógeno que chamou a atenção dos cientistas para a possibilidade de um impacto de asteroide, antes mesmo da identificação física da cratera.
Como o rutênio tem sete isótopos que permitem avaliar sua abundância relativa, os autores mediram as proporções de cinco desses isótopos em diferentes locais da Europa, e descobriram que as proporções eram consistentes entre si.
Conclusões do estudo dos asteroides impactadores
Asteroides mais próximos à Terra, como o Dimorphos, podem ser impactados por naves da Terra, como ocorreu na missão DART.Fonte: ESA-Science Office
Com base nessas medições, os autores concluíram que o responsável pela extinção dos dinossauros foi um asteroide do tipo C, do tipo que produz condritos carbonáceos, ou seja, meteoritos rochosos primitivos ricos em carbono. Embora esse tipo de rocha seja comum no espaço, não há muitos meteoritos dessa espécie na Terra.
Além disso, o asteroide trouxe para cá: aminoácidos, nucleobases e outros compostos necessários para construir a vida, diz o estudo. Sua formação no Sistema Solar externo o coloca próximo das distâncias onde os cometas se formam, mas os meteoritos produzidos por estes são conhecidos como condritos CI, com diferentes proporções de rutênio.
Estudar as características desses asteroides impactadores é importante para avaliar e mitigar potenciais ameaças de futuros impactos com o nosso planeta. Nesse sentido é importante que a maioria dos asteroides analisados seja do tipo S, mais comuns em nosso Sistema Solar interno, e consequentemente mais fáceis de observar a tempo de adotar medidas preventivas.