Pesquisando como exoplanetas se formam e evoluem, uma equipe internacional de cientistas revelou um novo “mapa” onde, em linguagem metafórica, explica padrões de distribuição de planetas chamados “netunos” porque têm tamanho semelhante ao nosso vizinho azul.
Publicado recentemente na revista Astronomy & Astrophysics, o estudo propõe que, entre um “deserto e uma populosa savana de netunos”, existe uma “cordilheira” netuniana. Nesse contexto, o deserto, onde há uma escassez de exoplanetas próximos à sua estrela, têm intrigado astrônomos e cientistas planetários, ao passo que a savana exibe uma profusão de mundos distantes de suas estrelas.
Assim, a recém-identificada cordilheira netuniana marca uma zona crítica, “indicando uma transição acentuada entre o deserto de Netuno estéril e a savana netuniana mais populosa”, explica em um comunicado o coautor Vincent Bourrier, professor da Universidade de Genebra, na Suíça.
Uma cordilheira entre o deserto e a savana de netunos
No deserto netuniano, planetas perdem suas atmosferas pela radiação extrema.Fonte: Getty Images
Para contextualizar a imensidade de sistemas exoplanetários, os pesquisadores dividem os planetas extrassolares de acordo com seu raio e período orbital. Assim surgiram os superjúpiteres e superterras, mais massivos que os planetas do Sistema Solar; e subnetunos, menores do que o planeta gasoso. Já o sufixo “quente” identifica um planeta que orbita sua estrela em poucos dias terrestres, ou mesmo horas.
Com base nesses conceitos, os cientistas buscaram, no atual estudo, definir os limites do deserto netuniano, isto é, a escassez de netunos quentes. A teoria vigente é que essa ausência se deve à intensa radiação estelar, que acaba removendo a atmosfera desses planetas, transformando-os em planetas menores em um processo conhecido como fotoevaporação.
Longe dessa “seca”, fica a savana netuniana, onde, mais distantes de suas estrelas, os mundos conseguem manter suas atmosferas, e tamanhos, intactos. No entanto, alguns desses netunos deixam o seu “bioma planetário”, migram para o deserto e veem suas atmosferas serem sequestradas pelas suas estrelas.
Por que planetas da savana vão para a cordilheira netuniana?
A cordilheira netuniana explica porque netunos são atraídos por essa região.Fonte: Elsa Bersier/Universidade de Warwick
Para compreender como o deserto e a savana netunianos têm sido moldados, os autores usaram o telescópio espacial Kepler da NASA, a fim de definir regiões precisas dessa paisagem. Assim, descobriram uma região intermediária, com um período orbital entre 3,2 e 5,7 dias terrestres, a cordilheira netuniana, que, segundo Bourrier, “fornece uma chave para entender os mecanismos físicos que moldam o deserto”.
A existência de algo como uma cordilheira sugere que alguns netunos são atraídos para essa região por uma “migração de alta excentricidade”, ao mudar suas órbitas para um formato mais alongado ou elíptico, mas, ainda assim, preservar parte de suas atmosferas, mesmo expostos à intensa radiação estelar.
Segundo o primeiro autor da pesquisa, Amadeo Castro-González, doutorando do Centro de Astrobiologia de Madri, “A cordilheira netuniana é só começo”. No comunicado, ele afirma que, com o desenrolar desse programa observacional, será possível testar suas hipóteses sobre as origens e a evolução desses mundos enigmáticos.
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