Pesquisadores da Universidade de Washington, nos EUA, conseguiram elaborar pela primeira vez um “modelo de ciclo de carbono geológico global” para explicar alguns dos eventos climáticos mais impactantes do nosso planeta: duas glaciações globais conhecidas como “Terra Bola de Neve”, quando a superfície planetária estava coberta por uma calota de gelo de até um quilômetro de espessura.
Ocorridos durante a Era Neoproterozoica (entre 1 bilhão a 539 milhões de anos atrás), esses eventos “Terra Bola de Neve” foram raros e não cíclicos, com durações de milhões ou dezenas de milhões de anos cada um. Embora tivessem como desfecho um aquecimento abrupto, pouco se sabia até agora sobre como essas transições ocorreram.
Publicado recentemente na Nature Communications, o estudo se concentra em antigas rochas conhecidas como “carbonatos de capa” para elaborar uma representação teórica da circulação do carbono entre a atmosfera, os oceanos, a biosfera e as rochas da Terra. As características dessas formações são explicadas antes, durante e depois da segunda glaciação conhecida como Marinoana.
Surgimento de carbonatos de capa na Terra Bola de Neve
Pessoa observando rochas carbonáticas de capa no sul da China.Fonte: Yaron Liu
Chamadas de “capas” (ou “coberturas”) porque são encontradas exatamente acima dos antigos depósitos glaciais, e “carbonatos” devido à sua composição química (calcário e dolomita), “os carbonatos de capa contêm informações sobre propriedades-chave da atmosfera e do oceano da Terra, como níveis variáveis de dióxido de carbono no ar ou a acidez do oceano”, explica em um comunicado o primeiro autor do artigo, Trent Thomas.
Acredita-se que essas rochas se formaram em seguida ao rápido aquecimento e derretimento do gelo global, que levou a uma elevação brusca dos níveis de CO2 na atmosfera, atmosférico e à precipitação acelerada de carbonatos nos oceanos, ou seja, formação de minerais carbonáticos sólidos a partir de íons dissolvidos na água do mar.
O fenômeno pode ter ocorrido no mundo inteiro, pois essas rochas de calcário ou dolomita em camadas são encontradas em mais de 50 regiões de diversos continentes, como o Vale da Morte nos EUA, Namíbia, Sibéria, Irlanda e Austrália.
A vida na Terra antes, durante e depois da Terra Bola de Neve
Logo depois do encerramento dos eventos Terra Bola de Neve, animais começaram a surgir.Fonte: Getty Images
Para o autor sênior do estudo David Catling, “A vida na Terra era simples, na forma de micróbios, algas ou outros minúsculos organismos aquáticos, por mais de dois bilhões de anos até a Terra Bola de Neve”. O cenário era tão monótono, diz o cientista em um comunicado, que esse período é chamado de “bilhão chato”.
Modelando a química e a geologia, o novo artigo conecta os eventos da Terra Bola de Neve em três fases: a princípio, o gelo refletia a luz solar, mas algumas áreas abertas permitiam trocas entre oceano e atmosfera. Um acúmulo de CO2 aqueceu o planeta, derreteu o gelo e formou uma camada de água doce sobre o oceano salgado. Finalmente, a mistura entre oceano e atmosfera foi retomada com a agitação oceânica.
Essas mudanças ambientais significativas influenciaram o desenvolvimento da vida e, agora que foram melhor compreendidas, podem fornecer pistas mais precisas aos cientistas sobre como impactaram a evolução e a adaptação dos seres vivos no planeta.
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