Depois de muita expectativa e inúmeros rumores, a Sony finalmente revelou o PS5 Pro em um breve evento. Conforme esperado, o novo modelo é simplesmente mais poderoso e capaz que a versão base, mas não reinventa a roda em nenhum aspecto, trazendo apenas versões proprietárias de tecnologias já conhecidas — como o DLSS. No entanto, o que surpreendeu e muito desagradou foi o preço, de US$ 799, praticamente o dobro do exigido na estreia da geração.
Recapitulando, o PS5 foi considerado uma versão melhorada do PS4 Pro em seu lançamento — a forma definitiva de jogar títulos em 4K. Nos consoles, a maior barreira na época era ter que encarar a escolha de dois modos alternativos, priorizando qualidade ou desempenho. Pensando nesse contexto, o PS5 Pro também poderia ser chamado de PS4 Pro 2, justamente por oferecer melhorias bem modestas para o público. Sua principal diferença é, na prática, não ter que escolher entre os modos da versão base.
No entanto, muita coisa mudou no cenário geral de jogos nos últimos quatro anos, com os maiores avanços acontecendo nos PCs conforme é costumeiro. Até para os mercados mais desenvolvidos, o PS5 Pro parece fazer pouco sentido considerando o custo-benefício — mas então, por que a Sony teria apostado tão alto? Bom, porque ela pode, ao menos por enquanto.
O que o preço do PS5 Pro representa no atual mercado de jogos?
Se o PS5 Pro não inova o suficiente, não tem jogos que justifiquem os avanços, e ainda custa o dobro da versão original, como seu lançamento ainda pode fazer sentido? Bom, ele não é vantajoso para o custo-benefício do consumidor, mas é coerente na perspectiva do mercado de jogos.
Para melhor contextualizar, por um lado, temos a Xbox com dificuldades de estabelecer uma estratégia clara de mercado, vendendo cinco vezes menos consoles que a Sony. Por outro, temos a Nintendo, que ainda curte os vitalícios lucros de um excelente portátil híbrido de 2017, consagrado como um dos mais bem-sucedidos na história — e que só deve receber um sucessor daqui a um ou dois anos. Nessa conjuntura, a PlayStation está confortável para conquistar um espaço sem muita disputa, por consequência, ditando um preço agressivo contra o público.
E isso também não é por acaso: o custo para produzir componentes para consoles subiu nos últimos quatro anos, mas a precificação para o consumidor ainda se manteve competitiva dentro do possível. Para piorar a situação, embora sejam de nichos diferentes dentro da mesma empresa, o fracasso de Concord deixou um prejuízo histórico nos cofres da PlayStation — algo que só incentiva a aposta em um preço mais agressivo no PS5 Pro para equilibrar a balança.
Conforme detalhou o The Verge, a Sony chegou a aumentar o preço do PS5 em até 19% no Japão, ainda no final do mês de agosto — muito antes da derrocada de Concord ou da recepção do PS5 Pro. Pensando no histórico, foi o terceiro aumento do console na região desde seu lançamento, em 2020, variando até 82,5% na versão Digital. Essa decisão só solidifica a necessidade do ajuste de preços, frente às mudanças econômicas internacionais.
Não é a primeira vez que a Sony lança um console tão caro
Se acha que a falta de uma concorrência adequada para o PS5 Pro sugere a vitória indiscutível da Sony, pode estar um enganado! Bom, é preciso lembrar que o novo modelo Premium não é o console mais caro já lançado pela empresa — pois é. Após o sucesso estrondoso do PlayStation 2, a Sony liderava com folga o mercado de consoles e todos aguardavam a próxima grande plataforma: o PS3.
Em sua primeira versão, o PlayStation 3 estreou com um chassi construído com materiais premium, leitor de Blu-Ray e um acabamento refinado. Os gráficos impressionavam, era o avanço que todos esperavam, exceto por um problema — o preço mínimo de US$ 499 (R$ 2.800) em 2008, ou US$ 778 (R$ 4.388) corrigidos para valores atuais. Para comparativo, o PS5 Pro mais básico pode ser adquirido por US$ 699, algo em torno de R$ 3950 na conversão direta, já que não temos valores nacionais.
Anúncio de preços do PS3, em 2008Fonte: Reddit
Apesar de todo sucesso de seu antecessor, o PlayStation 3 não caiu nas graças do público — nem todos os modelos podiam rodar os jogos de PS2, preço caro e poucos jogos novos. Com as vendas abaixo do esperado, a Sony deu espaço suficiente para o Xbox 360 brilhar como alternativa, coroando futuramente a Microsoft como vencedora daquela geração.
Ainda há quem diga que, não fosse o deslize da Gigante Americana com o Xbox One, a Microsoft ainda estaria reinando plena como líder. Com o PS4, a Sony retomou fôlego e se consagrou líder, novamente — mas o mercado já não é mais o mesmo. Com a iminência de um Nintendo Switch 2 e o custo-benefício dos PCs, a PlayStation pode estar contando com um sucesso ainda não conquistado, mais uma vez.
Dita a história quem chega primeiro
Entretanto, a posição de conforto da Sony permite que ela teste as águas do mercado como preferir, e, se o PS5 Pro alcançar um bom número de vendas, talvez possa ditar o futuro dos preços de console. Embora possa parecer improvável, esse comportamento competitivo é bastante comum entre os diversos nichos da indústria, e pode ser muito bem observado em casos como os infames carregadores do iPhone ou a falta de fones de ouvido na embalagem. Na maior parte do tempo, são medidas para aumentar a margem de lucro — afinal, é o objetivo de qualquer empresa.
Não estamos afirmando que o Nintendo Switch 2, por exemplo, custará US$ 699 no seu lançamento — mas citamos que o analista de mercado Hideki Yasuda estima cerca de US$ 499, o mesmo preço do PS5. É válido notar que o último console “Pro” da Sony é direcionado a um nicho muito específico de consumidores, e nem de longe busca ter um grande apelo de popularidade. Contudo, não deixa de ser um teste para ver até onde os consumidores estão dispostos a investir.
Switch é um dos consoles mais vendidos da história.Fonte: Nintendo
Por outro lado, a máxima também é real para o contrário: a rejeição do PS5 Pro, especialmente pelos seus modestos avanços e preço alto, também pode significar descontos no futuro. Este foi o mesmíssimo caso do PS3, que ganhou novas versões e eventualmente tornou-se mais barato, com mais jogos e mais soluções para o consumidor.
Apesar do embasamento, também é importante lembrar que essa discussão é meramente especulativa. No fim do dia, a Sony é uma empresa com os mesmos objetivos que qualquer outra — ou seja, buscar mais lucros e estabilidade para os investidores. Dessa maneira, pensando no longo prazo e relembrando a última década da indústria de jogos, fica ainda mais nítido que seu sucesso nisso depende apenas dos consumidores.