Lançado em 2002, Cidade de Deus virou rapidamente um dos filmes mais premiados e influentes do cinema brasileiro. Dirigido por Fernando Meirelles, ele conta a história de uma comunidade carente no Rio de Janeiro que se vê em meio a um conflito pelo domínio do tráfico de drogas local.
Narrada sob o ponto de vista de Buscapé (Alexandre Rodrigues), a produção indicada a quatro Oscars continua fazendo sucesso décadas após sua estreia, inspirando inclusive uma continuação. Já disponível no Max e na HBO, A Luta não Para deu um salto de 20 anos no tempo para mostrar como os personagens e locais da história se transformaram.
Grande parte do sucesso de Cidade de Deus se deve à maneira como ele trata questões como injustiça social, violência e o descaso do poder público, muito familiares ao público brasileiro. Mas será que isso é uma consequência de o filme e a série se inspirarem em fatos reais?
Cidade de Deus é inspirado em uma história real?
O filme de Meirelles tem como principal inspiração o livro de mesmo nome escrito por Paulo Lins, publicado em 1997. A obra tem tons semibiográficos e foi criada com o objetivo de contar a experiência do escritor como um morador da Zona Oeste do Rio de Janeiro durante os anos 1970, época em que o longa-metragem se inicia.
Segundo Lins, os personagens da história são retratações adaptadas de pessoas que ele realmente conheceu. O principal exemplo disso é Buscapé, que serve como uma versão ligeiramente diferente de um amigo de infância do escritor, que tinha como principal sonho virar um fotógrafo.
No entanto, os principais criminosos de Cidade de Deus são reais, embora também tenham ganhado algumas adaptações. Zé Pequeno (Leandro Firmino), por exemplo, é uma versão ficcional de José Eduardo Barreto Conceição, chefe do tráfico que entrou em conflito com o ex-militar Manoel Machado Rocha, o Mané Galinha (Seu Jorge).
Os dois iniciaram uma disputa após o traficante sequestrar e estuprar a mulher de Mané Galinha, que usou seus conhecimentos militares para combatê-lo. Enquanto o conflito entre os dois lados tenha acontecido na realidade, muitos dos eventos do filme são ficcionais — incluindo o cenário da Cidade de Deus, já que na realidade a disputa aconteceu na Cidade Alta.
Sobrevivente da disputa narrou sua história
Outro personagem que se destacou em Cidade de Deus foi o traficante Sandro Cenoura, interpretado por Matheus Nachtergaele. Ele é uma versão ficcional de Ailton Batata, que estava cumprindo uma pena de 36 anos de prisão por tráfego no momento em que o filme de Meirelles fez sua estreia.
Em 2017, ele decidiu contar sua própria história sobre a guerra do tráfico em Cidade de Deus: a história de Ailton Batata, o Sobrevivente. Publicado pela FGV Editora, o volume foi escritório pela antropóloga Alba Zaluar e pelo psicanalista Luiz Alberto Pinheiro de Freitas, que se basearam em 60 horas de entrevistas com o ex-criminoso.
O volume conta desde a infância de Batata até os motivos para ele ter mergulhado na criminalidade e o impacto que ela teve nas comunidades carentes do Rio de Janeiro. Já a série da HBO, A Luta não Para, continua sendo exibida sempre aos domingos e já foi renovada para uma segunda temporada.