Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Pesquisas tem reforçado que o movimento físico por meio de exercícios é um tratamento para problemas de saúde mental, bem como psicoterapia e medicamentos – como antidepressivos e ansiolíticos, para depressão e ansiedade, respectivamente. Entretanto, parece que não somos como ratos de laboratório correndo em rodas.
Nós, humanos, somos mais complexos e a atividade precisa fazer sentido para nossa vida, para ser mantida ao longo dela e assim, colhamos os benefícios.
O fato é que nosso ambiente contemporâneo praticamente não exige mais movimento. A pós-modernidade é marcada por conseguirmos quase tudo o que precisamos e queremos a partir de movimentos mínimos dos polegares em uma tela. O mesmo aparelho nos deixa hiperconectados e tem relação com o aumento dos distúrbios de saúde mental, aponta Jonathan Haidt no best-seller “Geração Ansiosa”.
Levantar do sofá (e largar o celular) para praticar exercícios tem sido uma árdua missão para todos os públicos, mas especialmente para aqueles que sofrem com problemas de saúde mental, que podem viver um paradoxo: querem praticar exercícios para melhorar sua condição, pois sabem que isso lhes faria bem, porém a mesma condição os limita, impedindo também os efeitos desejados.
Para muitas pessoas, largar o celular e praticar uma atividade física é um grande desafio. Fonte: Getty Images
Considerando que para efeitos positivos na saúde mental, não é qualquer movimento do corpo que traz benefícios, um recente estudo apontou uma modalidade efetiva para saúde psicológica e cognitiva que está enraizada em nossos genes, desde a origem de nossa espécie: a dança.
Conheça o estudo
O estudo de revisão que reuniu outros estudos com pessoas de 7 a 85 anos, incluindo públicos como pacientes com doença de Parkinson, estudantes escolares e universitários, funcionários de hospitais, pacientes com insuficiência cardíaca, fibromialgia, entre outros, mostrou que a dança pode ser tão efetiva quanto outras modalidades para a saúde do cérebro. O artigo foi publicado na renomada revista científica Sports Medicine no início de 2024.
Vários gêneros de dança foram utilizados, como as aeróbicas (Zumba, Step Dance), estilos de dança teatral (moderna, jazz), tipos de dança de salão (rumba, valsa, jive, latino-americana, salsa, rock ‘n roll) e danças culturais (dança de linha, qi gong, dança do ventre, danças folclóricas do Brasil, Argentina, Grécia, Inglaterra, Irlanda e Polônia).
A boa notícia é que independente do gênero, a dança foi capaz de melhorar uma série de aspectos psicológicos e cognitivos, incluindo bem-estar emocional, depressão, motivação, cognição social e alguns aspectos da memória, mas não ansiedade. Tais efeitos positivos ocorreram em níveis comparáveis a outros tipos de atividade física, como caminhada, esportes coletivos, artes marciais e musculação.
O estudo aponta que a dança traz inumeroso benefícios para saúde mental.Fonte: Getty Images
Parece que a dança realmente é uma forma das pessoas expressarem o amor pela vida, aspecto que pode estar crítico em pacientes com depressão – a doença mais incapacitante do mundo.
Em estudo recém-publicado que pude colaborar, conduzido pelo Laboratório de Pesquisa em Lazer e Atividade Física (Laplaf) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), a dança Jazz mostrou-se efetiva para reduzir ansiedade e depressão em mulheres na menopausa, com efeitos desde o primeiro mês e perdurando por meses.
Uma das maiores pesquisadoras da Universidade e líder do grupo de pesquisa, a Prof. Dra. Adriana Guimarães afirma que “A prática da dança é considerada uma terapia alternativa e aliada aos tratamentos convencionais da medicina, vem se destacando por seu uso e adesão no tratamento de algumas doenças, como a epilepsia, o Parkinson, as demências, o câncer de mama, a depressão e a ansiedade”.
Em relação a como a dança exerce seus efeitos positivos, Guimarães comenta que “através de suas características que integram elementos sensório-motores com estímulos audiovisuais e, ainda, promove a socialização, a dança é uma prática terapêutica que pode ser usada como tratamento adjuvante nos problemas de saúde mental, que têm se tornado cada vez mais comuns em todo o mundo e são geralmente caracterizados por combinações de pensamentos, percepções, emoções e comportamentos anormais, que também podem afetar as relações sociais”.
Dance para ser mais feliz
A pesquisadora ainda destaca: “A dança neste contexto pode servir como um facilitador para as interações sociais, auxiliando os participantes a se sentirem menos sozinhos, melhorando a qualidade de vida e aumentando a motivação, por fim favorece a integração emocional, cognitiva, física, espiritual e social, e traz como principais componentes o movimento corporal, expressão, criatividade e comunicação, baseada no fato que a mente, o corpo, o estado emocional e os relacionamentos são inter-relacionados, ou seja, quem dança é mais feliz”.
Grande parte das pessoas entende que o exercício físico faz bem para saúde. Mesmo assim, apenas tal informação não tem mudado comportamentos.
É improvável que um exercício considerado chato ou monótono seja mantido em nossas vidas a ponto de trazer benefícios. A dança, sendo tão efetiva quanto outras modalidades, se apresenta como uma maneira de movimentar o corpo, mas de forma divertida. Dance para viver melhor e, portanto, mais.
***
Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência – Fatos e Mitos.