Fundada em 1939 com o nome Timely Comics e assumindo o nome Marvel Comics desde 1961, a companhia atualmente é uma das principais subsidiárias da Disney e sinônimo de um grande império de entretenimento. No entanto, decisões equivocadas e problemas de gerenciamento quase fizeram com que ela desaparecesse completamente durante os anos 1990.
Embora já tivesse passado por algumas crises no passado, a companhia acabou sendo vítima de suas próprias ambições e de um mercado de colecionismo inflado, do qual ela se aproveitou bastante. No entanto, a explosão da bolha dos quadrinhos, somada a compras de várias empresas por valores inflados, fez com que ela tivesse que lidar com uma dívida que quase não conseguiu pagar.
Como a Marvel quase faliu nos anos 1990?
Os problemas da Marvel começaram durante a década de 1980 e, curiosamente, foram causados por um aumento de interesse nos quadrinhos. No entanto, ele não era necessariamente de fãs interessados em conhecer novas histórias e personagens, mas sim de especuladores que viam neles como uma forma de ganhar dinheiro fácil.
O colecionismo levou a uma verdadeira explosão na venda de quadrinhosFonte: Divulgação/Marvel
Parte disso se devia ao colecionismo: nas condições certas, uma revista histórica dos anos 1950 ou 1960 até hoje pode render muito dinheiro no universo de colecionadores. Sabendo disso, a editora — assim como muitas de suas concorrentes, incluindo a DC — começou a lançar várias “edições número 1” em tiragens bastante generosas.
Os especuladores começaram a comprá-las em grande quantidade, dando a impressão errada de que o mercado de quadrinhos estava muito aquecido. Quando a realidade bateu na porta e muitas pessoas descobriram que suas edições não valiam nada, muitas lojas especializadas fecharam e a própria Marvel correu risco de vida.
O estouro da bolha e investimentos ruins quase foram a ruína da editoraFonte: Divulgação/Marvel
Com suas ações vendidas na bolsa desde 1991, a empresa viu seus papeis passarem de US$ 35,75 para somente US$ 2,37 três anos depois e teve que lidar com uma dívida que superava os US$ 600 milhões. Isso gerou uma série de dúvidas sobre o futuro da empresa, com diversos investidores pressionando para que ela fosse liquidada ou vendida.
Curiosamente, entre aqueles que alertavam que o mundo dos quadrinhos estava em risco estava Neil Gaiman, na época dedicado a Sandman. Em 1993, ele afirmou que editoras estavam vendendo “bolhas e tulipas” para o público, que estava adquirindo várias histórias não por se interessar por elas, mas por acreditar que poderia lucrar com elas no futuro.
A empresa teve dificuldades para sobreviver
Enquanto todo o mercado de quadrinhos foi abalado pelo estouro da bolha, a Marvel foi ainda mais prejudicada graças a um investidor conhecido como Ron Perelman. Em 1989, ele investiu US$ 82,5 milhões comprando a editora da New World Pictures e aproveitou o dinheiro que ela fazia na época para bancar uma expansão agressiva.
Nem mesmo os maiores heróis da Marvel conseguiriam salvar a empresaFonte: Divulgação/Marvel
Ele gastou aproximadamente US$ 700 milhões adquirindo partes da fabricante de brinquedos ToyBiz, comprou fabricantes de cartas colecionáveis como a Leer, investiu em adesivos da Panini e na distribuidora Heroes World. Como a queda no interesse por quadrinhos, Perelman não conseguiu sustentar mais sua estratégia, que era baseada em aumentos de preços e no aumento constante de números de vendas.
Para tentar reverter a situação, Perelmen fundou a Marvel Studios em 1995 com a intenção de trazer alguns de seus principais personagens para a tela dos cinemas. Devido à resistência de muitos acionistas, ele decretou a falência da companhia, o que permitiu que ele reorganizasse suas atividades sem precisar de permissão externa.
Isso desencadeou uma disputa entre ele e o investidor Carl Icahn, que durou dois anos e resultou no afastamento de ambos. Quem “venceu” foram dois investidores da ToyBiz, com quem a Marvel se fundiu nesse intervalo: Isaac Perlmutter e Avi Arad. Eles decidiram eleger Joseph Calamari como o novo CEO, que tomou algumas medidas que têm repercussões até hoje.
Consequências atingem a Marvel até os dias atuais
Incapaz de produzir filmes e animações por conta própria e precisando de muito dinheiro, a companhia começou a licenciar seus principais heróis para empresas como Universal, Fox e Sony. É por esse motivo, inclusive, que até hoje a companhia japonesa é capaz de produzir filmes como Venom e Kraven por conta própria.
Foi somente em 2003 que a ideia da companhia formar seu próprio estúdio começou a tomar força, e ela só se tornou possível graças a um acordo com a Merril Lynch, estabelecido em 2005. Em troca de US$ 525 milhões, a editora apostou o futuro de propriedades como Thor e o Capitão América — embora arriscada, a ação se mostrou certeira e rendeu um grande império cinematográfico.
Ao mesmo tempo, a companhia teve que respeitar os acordos do passado e precisou lidar com várias limitações ao construir seu Universo Cinematográfico Marvel (MCU). Foi somente com o tempo — e com a influência da Disney — que ela conseguiu trazer às telas grandes versões próprias do Homem-Aranha e, mais recentemente, de Deadpool & Wolverine.
Esse “processo de recuperação” dura até os dias atuais e ajuda a explicar porque somente agora ela está investindo em filmes do Quarteto Fantástico e em vilões como o Doutor Destino. Embora isso possa ter tornado a cronologia do MCU bem diferente dos quadrinhos, a situação não impediu que ela construísse um negócio de bilhões que continua forte, apesar de alguns tropeços recentes.