Um dos conflitos internacionais mais prováveis dos próximos anos envolve o território de Taiwan. Sede da maior fabricante de semicondutores do mundo, a ilha pode ser invadida pela China por volta de 2027, ao menos de acordo com estimativas dos Estados Unidos.
Localizada a cerca de 180 km da China, a ilha tem mecanismos de defesa para um eventual ataque ordenado pelo presidente chinês Xi Jinping. Eles incluem até o chamado “Escudo de Silício”, que não é uma proteção de verdade, mas a garantia de que uma guerra no local prejudicaria a fabricação de eletrônicos em especial no país asiático.
Só que os próprios EUA já estão planejando a estratégia para defender Taiwan — e elas incluem um ataque massivo de tecnologia militar na tentativa de impedir a ofensiva antes mesmo de ela chegar ao ponto mais crítico.
Drones na linha de frente
O jornal The Washington Post conversou com o almirante Samuel Paparo, comandante da divisão da Marinha dos EUA na região do Indo-Pacífico. Para ele, a única solução contra um ataque chinês que ele considerá iminente é “transformar o Estreito de Taiwan em um cenário infernal sem tripulação humana, usando uma série de capacidades sigilosas“.
Plano dos EUA envolve construir modelos em tempo recorde para o combate. (Imagem: Getty Images)Fonte: GettyImages
Segundo detalhes revelados nos últimos meses, o plano chamado de Hellscape envolve construir e enviar para combate “milhares de novos drones” para o Estreito de Taiwan, que fica no Mar da China Meridional e já foi palco de várias disputas.
Os drones seriam não apenas aeronaves pequenas e armadas, como é o mais comum atualmente, mas também submarinos e veículos marinhos de superfície.
Criando um ‘inferno’
O objetivo do Pentágono, porém, não é que esses veículos não tripulados participem sozinhos do combate. Os drones seriam usados como “linha de frente“, uma espécie de distração contra os militares chineses até que outros veículos e as divisões de soldados humanos cheguem ao local.
Além disso, a ideia é poupar perdas de soldados humanos dos EUA e de aliados vizinhos, ao menos nesse primeiro momento. Parte da inspiração do novo plano está na guerra entre Rússia e Ucrânia: a defesa de territórios nos últimos anos do conflito inclui usos criativos e inéditos de drones por parte dos ucranianos.
EUA planeja usar drones para além dos modelos aéreos. (Imagem: Getty Images)Fonte: GettyImages
Paparo fala em “tornar a vida deles [China] completamente miserável por um mês“, até que tudo esteja pronto. O almirante, porém, não deu mais detalhes da estratégia, apesar de dizer que ela “é real e pode ser entregue“. Ao menos US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,4 bilhões na cotação atual) foi repassado em março pelo Departamento de Defesa ao projeto, mas essa verba só deve viabilizar parte do o programa.
O Estreito de Taiwan, posição marítima estratégica entre os dos territórios. (Imagem: Getty Images)Fonte: GettyImages
Chamada de Replicator, a iniciativa envolve a construção massiva de sistemas autônomos controlados por IA em até 24 meses.
A principal preocupação dos EUA no momento esta na diferença entre os exércitos. A China teria uma frota de drones significativamente maior do que as defesas atuais de Taiwan e isso já a colocaria em vantagem considerável — ao menos segundo as estimativas mais pessimistas dos norte-americanos.