Um dos comunicadores mais famosos do Brasil, Silvio Santos faleceu aos 93 anos. A notícia foi confirmada pelo SBT hoje (17), em um comunicado nas redes sociais, após o apresentador passar dias internado em um hospital em São Paulo.
“Hoje o céu está alegre com a chegada do nosso amado Silvio Santos. Ele viveu 93 anos para levar felicidade e amor a todos os brasileiros. A família é muito grata ao Brasil pelos mais de 65 anos de convivência com muita alegria”, diz o comunicado oficial do SBT, rede de TV comandada por Silvio Santos.
“Para nós, o Senor Abravanel é ainda mais especial e somos muito felizes pelo presente que Deus nos deu e por todos os momentos maravilhosos que tivemos juntos. Aquele sorriso largo e voz tão familiar será para sempre lembrada com muita gratidão. Descansa em Paz que você sempre será eterno em nossos corações”, conclui a publicação.
Durante décadas, o apresentador foi para muitas famílias um sinônimo de diversão nas tardes de domingo. Principal rosto do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), do qual também é dono, o apresentador também construiu um império financeiro com o Baú da Felicidade e com produtos como os perfumes Jequiti.
Ativo na televisão desde os anos 1960, ele iniciou a carreira como locutor e vendedor de produtos, talentos que acabou aproveitando também em seus programas de auditório. Embora esteja afastado da emissora que ajudou a criar, Santos segue sendo um dos nomes mais conhecidos do entretenimento nacional.
Assim, vale a pena revistar um pouco sua história e descobrir como Senor Abravanel se transformou no Silvio que conquistou o coração de muitos fãs. Sempre insistindo que sempre se considerava um camelô — sua primeira profissão —, ele já tem seu nome cravado entre os grandes da comunicação nacional ao lado de Roquette-Pinto, Assis Chateaubriand e Roberto Marinho.
Silvio Santos e sua história de sucesso
Nascido no dia 12 de dezembro de 1930 na Rua Travessa da Bentevi, no bairro da Lapa, Rio de Janeiro, Senor Abravanel é filho de Alberto e Rebeca Abravanel, dois judeus radicados no Brasil — ele grego e ela de origem de turca. O primeiro de cinco irmãos, ele começou a ser chamado de Silvio logo cedo pela própria mãe, como um apelido carinhoso, mas só assumiria o Santos quando iniciou sua carreira no rádio.
Silvio Santos demonstrou logo cedo o talento para a comunicação.Fonte: Divulgação/SBT
Na infância, ele frequentou a Escola Primária Celestino da Silva, na Rua do Lavradio, e depois ingressou na Escola Técnica de Comércio Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado. Apesar de ter feito sua carreira como um comunicador, ele tem formação técnica em contabilidade — o que o sem dúvida o ajudou a formar seu império financeiro.
Abravanel afirma que começou a trabalhar como camelô aos 14 anos de idade, vendendo capas para os títulos de eleitor produzidos após o fim da ditadura do Estado Novo. Dono de uma voz forte, ele chamou a atenção enquanto promovia seus produtos e foi chamado para fazer um teste na Rádio Guanabara — ele passou em primeiro lugar, mas negou a oportunidade porque iria faturar menos com o trabalho.
Aos 18 anos, ele ingressou no Exército Brasileiro, onde se destacou em meio à Escola de Paraquedistas. Foi nessa época que ele decidiu perseguir a carreira de comunicador, trabalhando aos domingos na Rádio Mauá dentro do programa de Silveira Lima. Logo depois ele passou pela Rádio Tupi (com algumas pontas na TV Tupi) e pela Rádio Continental, em Niterói.
Silvio Santos é uma presença constante na TV brasileira desde os anos 1960Fonte: Divulgação/SBT
No entanto, seu talento como vendedor falou mais alto quando ele percebeu uma nova oportunidade de negócios. Usando diariamente a barca que cruza a Baía de Guanabara, Silvio Santos teve a ideia de montar um sistema de alto-falantes na embarcação, pelos quais podia tocar músicas e promover diversos produtos.
A ideia deu tão certo que algumas embarcações começam a incorporar serviços como bares e até mesmo um bingo. Ao adquirir uma cartela para jogar, cada pessoa concorria a prêmios como jarras e quadros, o que aumentava o desejo de participar — tudo fruto de uma ideia creditava ao próprio comunicador.
Explorando um baú de oportunidades
Aos 20 anos, Silvio Santos se mudou para São Paulo, onde virou um apresentador de espetáculos e sorteios em caravanas de artistas. Ele também trabalhava como um locutor na Rádio Nacional, ao mesmo tempo que complementava sua renda com a venda da revista Brincadeiras para Você, que continha passatempos, palavras-cruzadas e charadas.
Sua grande oportunidade de vida veio em 1958 quando, disposto a ajudar o radialista Manoel da Nóbrega, que passava por dificuldades financeiras, ele comprou a empresa conhecida como o Baú da Felicidade. Ela funcionava a partir de um sistema de carnês, cujas prestações rendiam o direito a um brinquedo durante a época de final de ano.
Assumindo o controle da empresa, Santos resolveu o principal de problema de Nóbrega, que era conseguir entregar as mercadorias adquiridas. Com o tempo, ele expandiu o negócio criando lojas nas quais os clientes poderiam adquirir tanto carnês quanto eletrodomésticos — uma oportunidade e tanto na época em que o crédito não era disponível para muitos brasileiros.
O Baú da Felicidade deu tão certo que, em seu auge, ele chegou a ofertar até mesmo carros e casas em suas categorias mais caras. O empresário usou seu sucesso para fundar várias empresas complementares, como a Baú Construtora, a Marca Filmes e a concessionária Vimave, que viraram a base da Silvio Santos S/A.
Um dos investimentos que mais se destacou foi a Baú Financeira, que anos viraria o Banco PanAmericano. Fundada em 1969, ela tinha como objetivo proteger os investimentos de Santos dos diversos ciclos inflacionários pelos quais a economia brasileira passava. Em 1975, a divisão incorporou a Liderança Capitalização, que passou a vender a famosa TeleSena em 1991.
A carreira na televisão
A trajetória de Silvio Santos na televisão começou em 1961, quando ele passou a apresentar o programa Vamos Brincar de Forca na TV Paulista. No mesmo canal, ele também apresentou a primeira versão do Programa Silvio Santos, em um formato bastante diferente daquele que se popularizaria décadas depois.
Em 1965, ele se estabeleceu como um dos principais nomes da TV Tupi, onde estreou vários quadros de sucesso. Entre eles se destacou o Boa Noite, Cinderela, no qual garotas de famílias pobres tinham a oportunidade de viver um verdadeiro dia de princesa — formato que acabou sendo reutilizado várias vezes por outros apresentadores.
Ele também teve uma breve passagem como apresentador da TV Globo no começo dos anos 1970, mas logo partiu para outras oportunidades. Na época, Santos decidiu abandonar o canal ao perceber que não teria como adquirir uma participação acionária — e recusou um convite do próprio Roberto Marinho para continuar nele. Ele também chegou a negociar a compra de ações da Record, mas não teve sucesso.
Silvio Santos e o SBT
Junto ao sucesso no mundo dos negócios, Silvio Santos também continuou sua carreira como comunicador e, a partir da década de 1970, começou a cultivar o sonho de virar dono de uma rede de televisão. A primeira etapa foi concretizada em 1976, quando ele venceu a concorrência para assumir o Canal 11 do Rio de Janeiro.
Contando com investimentos de US$ 10 milhões e 13 mil funcionários, o canal serviu como a base que permitiu a construção do Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT. A emissora foi criada a partir de dois editais iniciados pelo governo federal, então comandado pelo militar João Batista Figueiredo, que buscava criar duas novas redes de televisão.
Elas iriam explorar os canais ocupados pelas extintas TVs Continental, Excelsior e Tupi, que atendiam praças como Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza e Recife. O processo foi polêmico porque resultou na vitória do Grupo Silvio Santos e do Bloch Editores, da Rede Manchete, que não atendiam aos requisitos exigidos pela Lei de Radiodifusão.
A decisão gerou muita polêmica na época, sendo duramente criticada pelo Jornal do Brasil e pela Editora Abril. Ambos afirmavam que ela teve cunho político, já que os grupos vencedores teriam se comprometido a apoiar o governo, enquanto os perdedores não tinham a mesma disposição.
As relações de Santos com a política continuaram crescendo com o passar dos anos e, em 1989, ele chegou a cogitar a possibilidade de concorrer à presidência, aproveitando o momento de redemocratização do país. No entanto, a candidatura foi barrada pela Justiça, dado que ele era dono de uma concessão pública de televisão — e, portanto, teria uma vantagem injusta em relação a seus oponentes.
Durante as décadas de 1980 e 1990, o empresário focou seus esforços em consolidar o SBT e a expandir o alcance da rede, que chegou a ocupar o segundo lugar entre as mais populares do Brasil. Embora não contasse com os mesmos recursos que a TV Globo, a emissora fez sucesso ao revelar diversos apresentadores e ao apostar na adaptação de produções mexicanas, como Chaves e diversos melodramas televisivos.
Grupo Silvio Santos continua forte
Durante os anos 2000, Silvio Santos voltou a apostar em novos negócios, fundando a Jequiti Cosméticos em 2006 e o hotel Sofitel Jequitimar Guarujá em 2007. No entanto, o empresário não teve somente sucessos: em 2010 foi descoberto um rombo de R$ 4,3 bilhões no Banco PanAmericano, o que quase acabou na venda do império construído pelo apresentador.
No entanto, ele decidiu encarar a dívida de frente, empenhando várias de suas empresas em um processo de recuperação que se mostrou bem-sucedido. Atualmente afastado de suas funções graças à idade avançada, o apresentador continua sendo uma referência na área e gerando comparações com sua sucessora, Patrícia Abravanel.
A vida de sucesso dessa figura carismática já virou assunto de vários documentários e séries como O Rei da TV, que narra sua história de forma ficcional. Ele também vai virar o tema de um novo filme estrelado por Rodrigo Faro, cujos primeiros trailers não foram bem recebidos e viraram motivos de piada nas redes sociais.
Entre altos e baixos, uma coisa é fato: Silvio Santos marcou a história da televisão brasileira e das comunicações para sempre.