Deathbound é um soulslike produzido pelo estúdio brasileiro Trialforge Studio. Desde o seu anúncio, o game vem chamando atenção não apenas por ser um dos mais audaciosos projetos desenvolvidos aqui no país, mas também por prometer uma série de novidades para um gênero tão consolidado.
Mas será que diante de tantos elementos que caracterizam um jogo como um soulslike, e ao mesmo tempo tantos concorrentes chegando ao mercado, ainda sim há espaço para o game brasileiro brilhar? Confira o review completo!
Um conflito religioso que destruiu o mundo
Diferente de boa parte dos soulslike, Deathbound se esforça para trazer uma história que não serve apenas como uma desculpa para colocar os jogadores em combate. O game aborda um tema até hoje sensível, e que pode até ser considerado uma crítica direta ao conflito religioso que, infelizmente, assola algumas partes do mundo até os dias atuais,
Ele se passa no mundo de Ziêminal, que foi devastado por uma guerra que envolve duas facções religiosas: a Morte e a Vida. Enquanto a primeira prega pela honra, a um nível fanático, de servir a uma deusa que comtempla aqueles que a honraram enquanto vivos, a outra utiliza a ciência para encontrar a imortalidade, para assim contemplar seus seguidores com a vida eterna.
Deathbound tem conflito religioso como plano de fundo para sua históriaFonte: Steam
O enredo se inicia focado em Therone, um cavaleiro templário, que segue a Igreja da Morte, cuja missão é destruir os laboratórios daqueles que promovem a vida. Entretanto, depois de fracassar na sua missão e aceitar seu destino, ele acaba retornando ao mundo. Se não bastasse, aos poucos começa a perceber que carregará consigo a alma de outros guerreiros, tanto da sua religião como da outra, em um mistério que só é revelado na parte final do jogo.
Por estar acostumado a pouca coisa sendo desenrolada ao longo de um enredo neste tipo de game, é até surpreendente para onde a história de Deathbound te leva. Sendo assim, por mais que a apresentação da mesma não seja tão satisfatória, principalmente na apresentação visual, ainda sim vale a pena acompanhar o desenrolar e entender como essas religiões surgiram e como realmente atuam.
7 personagens em 1
De longe o grande ponto alto de Deathbound é a sua jogabilidade. O game “respeita” as regras do gênero e traz os elementos comuns a um soulslike, como a dificuldade elevada, sistema de pontos de experiência acumulativos que, diante de uma eliminação, ficam no mesmo local esperando o seu resgate, e “fogueiras” onde é feito o seu checkpoint e a evolução de armas e habilidades.
Entretanto, Deathbound conseguiu fazer o que muitos tentaram sem êxito: inovar o sistema de combate. A proposta é ousada e apresenta diversos personagens em um só, cada um com habilidades diferenciadas, e que acabam facilitando o progresso ao longo da sua jornada. Eles variam desde um cavaleiro templário, no melhor estilo paladino, até uma ladra extremamente ágil, e um capoeirista que faz os nossos olhinhos brasileiros brilharem.
Para isso, ao longo do game você precisa recolher Essências que, quando capturadas, trazem as habilidades e memórias de um guerreiro para o seu personagem. Nesse momento, você é levado para uma tela, que também serve como um tutorial, que mostra um resumo da origem dele.
É preciso recolher Essências para liberar novos personagensFonte: Steam
Confesso que achei simples esse momento em relação a sua importância. Poderia ser substituído por algo mais detalhado, como uma cena de animação, ou até mesmo imagens na tela, já que a forma utilizada, com elementos em segundo plano, não ficou legal. Em contrapartida, os diálogos entre esses personagens ao longo do jogo é bem construído e tira o vazio e a solidão que boa parte dos soulslikes fazem questão de manter.
Ao todo são sete personagens, onde é preciso escolher quatro para serem usados nos combates. Há uma sinergia entre eles, o que faz com que seja necessário respeitar a forma com que são inseridos, assim como analisar os prós e contras da escolha. Entretanto, como alguns possuem habilidades cruciais, inevitavelmente os espaços serão compostos por dois personagens para a batalha franca, e outros dois para ataques de longe ou movimentos mais rápidos.
E sobre movimentos, Deathbound peca na construção de alguns. Por exemplo, Anna Lepus, a primeira Essência do game, é uma ladra extremamente habilidosa, e com um ataque a longa distância. Porém, a mesma não possui defesa, apenas uma esquiva que não funciona tão bem no jogo, independente do personagem. Sendo assim, faltou um pouco mais de balanceamento, já que, por conta disso, a primeira opção nos combates sempre será por aqueles que podem defender e atacar normalmente.
Por fim, é possível realizar golpes conjuntos onde os personagens são alterados automaticamente, e causam um bom dano aos inimigos. Para isso, é preciso encher uma barra chamada Sync, que faz com que, durante a batalha, ocorra essa transição e ao mesmo tempo cause um bom dano ao oponente. Essa é a cereja do bolo de um sistema inovador, que pode ser facilmente adotado por outros títulos do gênero.
A combinação de golpes entre os persoangens é um dos pontos altos do gameFonte: Steam
Algumas adições são benvindas, outras desnecessárias
Além do sistema de combate mencionado anteriormente, há também outras novidades em Deathbound em relação aos jogos do gênero. A principal delas é o sistema de energia, que é compartilhado com a sua barra de vida. Ou seja, se você estiver com ela pela metade, a sua estamina também ficará limitada até que você use um item para recuperar a barra de vida.
Além disso, depois que as Essências são desbloqueadas, há uma espécie de compartilhamento dessa energia. Só que isso acontece da pior forma, ou seja, enquanto o personagem principal cura a sua barra de energia, a dos outros é reduzida, obrigando você a criar um balanceamento para não comprometer todo o grupo.
Inimigos comuns dão mais medo que os chefes em DeathboundFonte: Steam
Entretanto, a mesma também aumenta à medida que novos inimigos são derrotados, o que te obriga a fazer uma espécie de loot de oponentes até que todos fiquem com suas respectivas vidas completas. E esse acaba sendo um ponto que leva a algumas discussões. Eu particularmente achei um componente a mais que agrega na dificuldade do jogo.
Dificuldade que por sua vez se apresenta um pouco abaixo do padrão, principalmente com chefes, que deveriam ser bem mais poderosos, mas que acabam sendo mais fáceis do que você pode imaginar.
Por exemplo, o primeiro chefe pelo caminho é uma criatura cega que ataca através de seus movimentos. Com isso, mesmo na última forma, onde as investidas são mais frequentes, é possível derrotá-la logo no primeiro confronto. Ou então, basta apenas entender como ela se comporta para eliminá-la sem perder quase nenhuma energia.
Os chefes de Deathbound poderiam ser mais complexosFonte: Steam
Já alguns inimigos comuns têm um comportamento um tanto agressivo, o que os tornam mais temíveis que alguns desses chefes. Porém, a parte inicial do jogo é bastante propícia para quem deseja upar seu personagem. Isso porque os pontos de experiência são distribuídos de uma forma abundante, fazendo com que facilmente você alcance o nível 15 ou mais logo no primeiro ponto de restauração do game.
Com isso, Deathbound acaba sendo um soulslike inclusivo e ao mesmo tempo desafiador. Ou seja, para quem deseja se aventurar num gênero cada vez mais popular, o game brasileiro pode ser uma bela porta de entrada
Visual tem seus altos e baixos
Deathbound não se vende como um dos jogos mais realistas já visto, mas ainda sim é possível notar facilmente alguns deslizes visuais do jogo. A sua ambientação merece elogios, já que todo o mundo criado no jogo combina com a premissa do seu enredo. Ou seja, a todo momento é possível notar locais destruídos e referências às religiões responsáveis pelo colapso global.
Deathbound traz uma ambientação que agrada bastanteFonte: Reprodução / Voxel
Entretanto, o game traz muitos locais fechados e limitados, como casas com corredores apertados, e que em boa parte das vezes traz inimigos escondidos nelas. Com isso, a câmera do jogo sofre com as limitações, o que atrapalha diretamente no combate. Curiosamente esse também foi o calcanhar de Aquiles do primeiro Lords of the Fallen, o que acabou sendo a principal crítica ao game.
O jogo também peca na construção dos seus inimigos que, além de muito repetitivos, não trazem um design tão detalhado. Principalmente em alguns chefes, cuja construção chega a ser um tanto cômica com partes não tão bem desenhadas. Por fim, também há alguns bugs visuais que deixam pedaços de caixas, ou até mesmo oponentes mortos, flutuando pelo cenário ou se sobrepondo a partes do cenário.
O game conta com alguns bugs na parte visualFonte: Reprodução / Voxel
Vale a pena?
Deathbound é uma das grandes surpresas do ano. Como dito anteriormente, o jogo consegue trazer inovações a um gênero tão consolidado e seguido à risca. Sendo assim, não irei me espantar caso seja adotado por um concorrente muito em breve. Além disso, ele consegue mesclar elementos que o tornam ideal para quem quer se aventurar em um soulslike sem passar por maus bocados.
Entretanto, ele ainda esbarra em muitas limitações, principalmente visuais, mas que podem ser facilmente resolvidas em uma sequência, já que a sua história também dá margem para isso. Fico na torcida para que em breve possamos ver o nosso soulslike brasileiro se consolidando como uma franquia referência para o gênero.
Nota do Voxel – 80
Pontos positivos (prós):
- Sistema de combate inovador para o gênero;
- Classes variadas e bem definidas;
- Inclusivo e ao mesmo tempo desafiador;
- História original e bem construída.
Pontos negativos (contras):
- Bastante linear;
- Chefes poderiam ser mais complexos;
- Bugs visuais;
- Inimigos muito repetitivos.
Deathbound pode ser jogado atualmente no PC, PS5 e Xbox Series S e X. Uma cópia do jogo para computador foi cedida pela desenvolvedora para review.