Apesar da determinação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) para interromper o pagamento em criptomoedas em troca do registro de íris, a World (antiga Worldcoin) segue em atividade no Brasil.
Segundo apuração do G1, os pontos de coleta continuam funcionando normalmente, e os pagamentos em criptomoedas seguem sendo oferecidos aos participantes.
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Pagamento em criptomoedas
No último sábado (25), a ANPD ordenou que a Tools for Humanity, empresa responsável pela iniciativa, parasse com a troca de dados biométricos por pagamentos equivalentes a cerca de R$ 600. A justificativa do órgão regulador é que esse tipo de incentivo pode comprometer a autonomia do consentimento, principalmente para pessoas em situação de vulnerabilidade financeira.
No entanto, a investigação do G1 revelou que, mesmo depois da ordem da ANPD, o cadastramento de íris ainda continua acontecendo sem mudanças. Doze entrevistados confirmaram que a plataforma continua oferecendo pagamento pela participação, e um funcionário, que falou sob condição de anonimato, afirmou que não recebeu nenhuma instrução para interromper a prática.
De acordo com eles, a intenção do projeto é coletar dados para conseguir diferenciar com sucesso humanos de robôs. “Com 80% das pessoas que baixaram o aplicativo World no Brasil acreditando que tecnologias como a World são cruciais para diferenciar bots de humanos online, consideramos importante recorrer da decisão para continuar oferecendo este importante serviço aos brasileiros”.
A operação acontece apenas em São Paulo, com um total de 52 pontos de atendimentos pela cidade, a maioria deles localizados na periferia.
Posicionamento da empresa
10 million verified humans on World Network.
Thank you 🫶 pic.twitter.com/wQPWxsnERm
— World (@worldcoin) January 10, 2025
Em resposta, a World declarou que continua operando dentro da legalidade e mantém diálogo com a ANPD para atender às exigências do órgão. A companhia não deixou claro, entretanto, se vai mudar a sua política de remuneração pela coleta de dados biométricos.
Além disso, de acordo com informações do Valor Econômico, a Tools for Humanity entrou com um recurso junto à ANPD solicitando mais tempo para adequação às novas diretrizes. O vice-presidente de proteção de dados da empresa, Damien Kieran, declarou que uma reunião com a ANPD está agendada para esta semana.
“Estamos em contato com a ANPD e confiantes de que podemos trabalhar com o órgão para garantir a capacidade contínua de todos os brasileiros de participarem totalmente da rede World. Estamos comprometidos em continuar a oferecer este importante serviço a todos os brasileiros”
Impacto na proteção de dados
O caso acaba revivendo debates sobre o uso de dados biométricos para a criação da chamada World ID, um sistema que, segundo a empresa, tem como objetivo comprovar a identidade de indivíduos de forma única e segura em um mundo cada vez mais influenciado pela inteligência artificial.
Entretanto, a Coordenação-Geral de Fiscalização (CGF) da ANPD apontou que a oferta de criptomoedas pode comprometer a transparência e a liberdade do consentimento dos usuários. De acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), qualquer tratamento de dados sensíveis, como informações biométricas, deve ser realizado de forma livre, informada e inequívoca.
A CGF argumenta que a compensação financeira pode acabar induzindo indivíduos a fornecerem seus dados sem plena compreensão dos riscos envolvidos, especialmente em contextos de vulnerabilidade econômica. Assim, a ANPD segue monitorando a situação para garantir a conformidade da World com as normas de proteção de dados no Brasil.
Fonte: G1